neuropsicologia, psicologia

Educação: limites, culpa e amor

Será que vou dar conta das necessidades do meu filho? Tenho que suprir todas as necessidades da criança?

Nos primeiros meses de vida, é normal e mesmo esperado que os pais se dediquem de forma quase que exclusiva ao bebê. Mas aos poucos, é importante que ele possa ir desenvolvendo sua autonomia e experimentando doses toleráveis de frustração, o que é bem diferente de abandono. Vivenciar essa separação em curtos espaços de tempo, estimulada pela mãe e, em grande parte dos casos, pelo pai, propicia uma relação de confiança com a criança que, desta forma, tem a chance de desenvolver seus recursos internos desde pequena… o que a levará a tornar-se um adulto seguro e confiante de si mesmo.

Colocar limites não significa ser duro ou inflexível, mas dizer o que a criança pode ou não fazer, colocando regras que a orientem e protejam de situações em que ela não está totalmente madura para decidir por si própria. Além disso, esse não é um dos primeiros de muitos que irão acontecer pela vida e é melhor que a criança aprenda em casa, em um ambiente seguro e amoroso, a ser capaz de tolerar a frustração.

No entanto, em alguns casos, a criança procura testar a paciência e persistência dos pais e suas regras… para chamar sua atenção. Nada a deixa mais feliz que receber atenção e afeto verdadeiros e, dessa forma, é natural que quando não estejam recebendo atenção suficiente, tenham comportamentos para chamar a atenção e manter os pais por perto. Há crianças que preferem castigos e restrições, mantendo assim, os pais ao seu lado, do que portarem-se bem e os pais estarem ausentes.

Mas dizer não, colocar limites e castigos gera culpa… e o olhar do outro dentro de nós acusa!

É importante ter a clareza que, a longo prazo, a criança que não recebeu limites dentro de casa e foi superprotegida, pode transformar-se em um jovem infantilizado, inseguro, dependente e mal educado… demonstrando uma insatisfação crônica e até mesmo exigindo que os pais realizem todos seus desejos – comportamento tirânico. Apresentam, muitas vezes, comportamentos de risco, como o uso abusivo de álcool e outras drogas, a prática de sexo desprotegido, entre outros… na procura desesperada por um limite, ainda que este seja o de seu próprio corpo.

Dizer não, colocar limites, enfrentar chantagens e birras é muito mais difícil e complexo do que realizar aquilo que a criança deseja naquele momento… no entanto, é tão importante para o seu desenvolvimento emocional saudável quanto o amor!

Raíssa Tebet Coelho Soares – Psicóloga Clínica, especialista em Neuropsicologia e Psicologia Hospitalar, com ênfase em acompanhamento Pré e Perinatal (HCFMUSP) – CRP 06/107484 

 

 

psicologia

A construção do vínculo mãe-bebê desde a gestação

Durante a gestação, muitos são os medos e anseios que passam pela cabeça da mulher: a saúde do bebê, a mudança na própria vida, da dinâmica familiar e a preparação para este novo papel psíquico materno, que passará a desempenhar. Junto com um novo bebê, nasce também uma nova mãe. E com isso, sentimentos de ansiedade podem aflorar.

A construção do vínculo com o bebê não é automática e imediata, pelo contrário, é gradativa e deve ser estabelecida, preferencialmente, desde a gestação, no ambiente intrauterino. Trata-se de um processo de comunicação tão complexo quanto sutil e que torna possível esta troca íntima e profunda.

O vínculo é de importância vital para a criança que está se formando, pois ela precisa se sentir desejada e amada para ter um desenvolvimento saudável. O amor e a rejeição repercutem sobre a criança muito precocemente mas, para que possa dar significado a estes sentimentos é preciso maturidade neurofisiológica. Até os três primeiros meses de vida intrauterina, as mensagens enviadas pela mãe são, em grande parte, incompreendidas pelo embrião, muito embora possam causar-lhe desconforto se percebidas como desagradáveis.

À medida que vai evoluindo, o feto torna-se capaz de registrar e de dar significado às emoções e sentimentos maternos. É quando começa a se formar sua personalidade, por volta do terceiro trimestre de gestação.  Para se livrar desse desconforto (ansiedade materna), ele começa a elaborar progressivamente técnicas de defesa como dar pontapés, mexer-se mais ativamente, que funcionam como uma mensagem de que está sendo perturbado. Se houver sintonia materno-fetal, a futura mamãe capta esta mensagem e começa a passar a mão delicadamente em seu ventre, o que é percebido e decodificado pelo feto como atitude de compreensão, carinho e proteção, tranquilizando-o.

Com a maturação e desenvolvimento do embrião dentro do útero materno, a experiência de desconforto transforma-se, aos poucos, em emoção e tem início a formação de ideias sobre as intenções maternas em relação a si mesmo. Se a mãe for amorosa e tiver uma relação afetiva com seu bebê, poderá contribuir para que nasça uma criança confiante e segura de si. Mães deprimidas ou com ambivalência emocional (dúvidas quanto a desejar ou não a gravidez e o bebê), acabam privando-o de seu amor e apoio, podendo favorecer futuros problemas emocionais, uma vez que sua personalidade foi estruturada num clima de medo e angústia.

Mesmo a gestante que rejeita seu filho, comunica-se com ele através do fornecimento do alimento. Entretanto, a qualidade desse vínculo é bastante diferente da mãe que o deseja. O bebê percebe as emoções negativas maternas como um ataque a si próprio.

O consumo excessivo de álcool, tabaco e medicamentos pela gestante são altamente prejudiciais ao desenvolvimento físico e psíquico do embrião, acarretando em sofrimento. No entanto, um fator importante a ser considerado é quando a gestante faz uso de medicações psicotrópicas. A supressão total pode deixá-la extremamente ansiosa, o que prejudica a criança e o vínculo estabelecido com ela. Nesse caso, o médico deve analisar a relação risco/benefício de retirar ou não a medicação.

A atividade sexual não traz qualquer malefício. Ao contrário: o orgasmo, especialmente na mulher, é altamente benéfico física e emocionalmente. O feto capta o bem-estar geral e a tranquilidade maternos e sente-se seguro e protegido.

Os acontecimentos graves e estressantes como perdas significativas ou situações de brigas conjugais ou com pessoas mais próximas, são causas de grande sofrimento fetal. Para diminuir os efeitos nocivos ao feto, a futura mamãe deve aumentar os períodos de descanso, oferecer-lhe apoio afetivo e conversar com ele, esclarecendo-o dos acontecimentos. Embora não haja compreensão das palavras, o feto capta o sentido do que lhe é dito e se tranquiliza… Assim, o vínculo mãe-bebê pode ser mantido, desenvolvido e fortalecido!

Raíssa Tebet Coelho Soares – Psicóloga Clínica, especialista em Neuropsicologia e Psicologia Hospitalar, com ênfase em acompanhamento Pré e Perinatal (HCFMUSP) – CRP 06/107484