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A superficialidade dos relacionamentos em tempos de Amor Líquido

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O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em sua obra Modernidade Líquida, apresenta o conceito de liquidez emprestado da física, reaplicando-o à sociologia, que designa estruturas sociais metamórficas, capazes de se alterarem e de se reorganizarem conforme o meio em que se encontram, símbolos da era pós-moderna. Esse período caracteriza-se por um mundo cada vez mais fragmentado e por um sujeito cada vez mais confuso consigo mesmo, com o espaço que ocupa e com o tempo que o rodeia.

A identidade cultural do sujeito pós-moderno, marcada por individualismo e narcisismo exacerbados, desloca-se o tempo todo, de acordo com o aparecimento de novos aspectos formais na cultura. Vive-se hoje num mundo sem referências e à deriva, o que gera uma crise de identidade. Essa nova realidade tem afetado diretamente o cotidiano das pessoas, trazendo interferências negativas, especialmente nos relacionamentos.

Bauman realiza uma reflexão sobre o mundo contemporâneo, dando origem ao conceito de Amor Líquido. Nossos relacionamentos pessoais, assim como o convívio social cotidiano, são mediados pela tecnologia. As pessoas estão, cada vez mais, trocando o conceito de relacionar-se por conectar-se, parceiros por redes. A internet, desta forma, assume a função de conectar pessoas, formar redes de relacionamentos cada vez mais flexíveis e esta modernidade líquida criou uma nova era nos relacionamentos, que estão cada vez mais fragilizados e desumanizados, uma vez que podem ser desmanchados a qualquer momento e muito facilmente.

Não sabemos mais como manter um relacionamento a longo prazo e isso não acorre apenas nas relações amorosas e vínculos familiares, mas nos relacionamentos humanos no geral, que estão sendo tratados como mercadorias. Quantidade sobrepõe-se à qualidade. Se existe algum defeito, podemos ser descartados e trocados. As relações terminam tão rápido quanto começam. As pessoas pensam acabar com um problema cortando seus vínculos, mas o que realmente fazem é criar problemas ainda maiores.

A confiança que tínhamos no Outro está próxima de seu fim. As pessoas têm medo de sofrer e pensam que, não estabelecendo relacionamentos, irão proteger-se. E desta forma, tornam-se cada vez mais solitárias e amargas…

 

É importante refletirmos sobre os tempos atuais e nos colocarmos algumas questões: Como devo me posicionar em meus relacionamentos? Tenho sido verdadeiramente Eu? Ando enxergando os desejos e necessidades daqueles com quem me relaciono? Como conviver na alteridade?

Para construir relacionamentos mais autênticos, devemos questionar (e tornarmos consCIENTES) da alienação e superficialidade em que estamos vivendo no mundo contemporâneo!

Raíssa Tebet Coelho Soares – Psicóloga e Neuropsicóloga, especialista em Psicologia Hospitalar com ênfase em Psicologia Pré e Perinatal (CRP 06/107484) 

 

Bibliografia

Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. trad. Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Bauman, Z. (2004). Amor líquido: sobre a fragilidade das relações humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

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